Proteção, 2021
A arte pode ser um caminho de sugestão de transformações. Trata-se de um campo de metamorfoses em que cada elemento constitutivo de um trabalho constitui uma escolha a gerar múltiplas leituras, sempre desafiadoras, principalmente quando se toma a decisão de observar atentamente os diversos elementos que integram uma visualidade.
A mão, por exemplo, nesta manifestação de Mônica Furtado, está associada à proteção indicada no título da obra. Suas conotações apontam para a faceta humana de zelar pelo outro. Nesse aspecto, o sagrado se manifesta porque há uma postura existencial de cuidado, principalmente, no contexto desta imagem, do feminino.
A sugestões de corpo e de concha trazem uma mescla de sexualidade e de sacralidade. O profano e o sagrado caminham em paralelo e se encontram em uma composição em que as garatujas desempenham um papel fundamental, introduzindo elementos lúdicos no ato criativo e apontando que todo fazer está aliado a um pensar.
O conjunto resultante traz uma sacralidade associada ao criar. Existe um respeito do artista por aquilo que faz enquanto uma relação estabelecida consigo mesma, com a sociedade e com as conexões entre a ideia, o objeto instaurado plasticamente e as possibilidades de interpretação dele por cada observador.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador